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Crítica: Besouro Verde

Olá!

Agora que as aulas começaram anda meio punk de arrumar disposição (tempo rola, disposição tá tenso) de escrever e postar. Todos dizem que o terceiro ano do ensino médio é época de estudar absurdamente todos os dias, sem sair de fim-de-semana pra esse fim. Eu estou pouco me fodendo (com o perdão do termo). Saio de fds sim, vou no cinema sim. Estudo? Sim, todo dia. Mas me recusar a ir no cinema, a coisa que mais gosto? Nah.

Ontem estreou Besouro Verde aqui no Brasil, e numa rara pontualidade, aqui na ‘minha terra’ também. Por que isso? Bem, isso vai ser respondido mais à frente.

Michael Gondry em sua carreira dirigiu filmes bem diferentes, e seus dois filmes de maior destaque (o bom Rebobine, Por Favor e o excelente Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças) são comédias absurdamente fora das tendências hollywoodianas. Depois de muitos conflitos e da saída do excelente Stephen Chow (dos excelentes Kung-Fusão e Shaolin Soccer), Gondry foi o que acabou botando as mãos nesse filme, seu primeiro blockbuster hollywoodiano de grande renda.

Pois é. Blockbuster hollywoodiano. Um filme com ação, comédia, violência moderada e muitos efeitos especiais. Essa é a tendência ultimamente de hollywood. Assim, eles atraem uma camada grande de espectadores e ganham o que querem: Grana. Assim, mesmo em cinemas precários (vulgo o cinema de São Carlos), que não chegaram nem a estrear o excelentíssimo Cisne Negro (tive que viajar pra vê-lo), estréiam essas ‘coisas’ pontualmente, com público garantido.

Muitas vezes esses blockbusters hollywoodianos conseguem pelo menos divertir com ação e uma história que não exige que você pense muito, e soam como um alívio do dia-a-dia. Infelizmente, Besouro Verde abusa da sua vontade de relaxar, e bombardeia você com tosquisse atrás de tosquisse.

O filme conta a história de Britt Reid (Seth Rogen, um ator que eu gosto muito, diga-se se passagem), um homem que não liga pra nada, negligenciado desde pequeno pelo pai – dono da maior empresa de jornal da cidade –  alcoólatra e despreocupado. Um dia, recebe a notícia que seu pai foi morto devido a uma reação alérgica a uma picada de abelha e herda toda sua companhia, sendo obrigado a seguir o legado de apresentar notícias e expor a corrupção da cidade, mesmo não tendo qualificação profissional ou mental pra isso. Até que ele conhece Kato (Jay Chow), o homem que fabricava os carros de seu pai, fazia seu café e que tem uma experiência absurda em artes marciais, e decide, junto com esse parceiro, virar o Besouro Verde, um herói que posa de vilão pra se aproximar das pessoas más e, assim, acabar com elas.

Normal, até aí, uma pena que o roteiro não ofereça nenhuma satisfação digna do motivo dele querer bancar o herói. A epifania de “eu não fiz nada de bom da minha vida, vou virar um justiceiro com meu parceiro que luta kung-fu e sair explodindo todo mundo que é mau” usada no filme não convence de forma alguma. Mas mesmo assim, a ação pode ser boa suficiente pra divertir, não é? Não?

Não.

Dá pra ver por essas cenas de luta que o ator Jay Chow realmente sabe lutar e sabe usar suas artes marciais. Também, isso seria necessário, visto que na série antiga na qual o filme foi baseado, o papel de Kato era de Bruce Lee, um dos maiores nomes do cinema das artes marciais e, sem dúvida, um ser único. Porém, mesmo sabendo lutar, Jay Chow não sabe atuar. O inglês que ele fala no filme carrega um sotaque atroz, e passa a sensação de que ele não sabe nada do idioma e não sabe o significado das frases que ele ‘recita’. Consequentemente, não consegue atuar. E mesmo nas cenas do filme onde ele poderia ter destaque (as cenas de luta), ele não impressiona. Mas essa última parte não é demérito dele, e sim do diretor, que coloca em tela efeitos de velocidade e CG perceptivelmente falso em excesso, fazendo com que essas fiquem impalpáveis, nada empolgantes e simplesmente toscas. Ainda mais quando ele usa sua “Kato-Vision”, que aparece num design estranho e nada inspirado. Cheguei a lembrar fortemente do péssimo desenho Action Man.  Pois é.

Seth Rogen está divertido como sempre, também. Ele consegue adicionar o carisma necessário para todos os personagens que faz. Porém, mesmo divertido, ele acaba ficando na sombra do seu parceiro, já que seu personagem não sabe lutar e é simplesmente um adulto irresponsável, que só vai ter o devido destaque de protagonista no final do filme, quando já está melhor dos seus defeitos de caráter e blá blá blá. Tudo isso depois de uma clássica rivalidade entre os personagens principais por causa de um interesse amoroso, aqui pela secretária Lenore Case (Cameron Diaz). Pois é. Esse filme é tendência. Previsível, clichê e nada demais.

Não poderia deixar de citar também o vilão Bloodnofsky, aqui sob responsabilidade do excelentíssimo ator Christoph Waltz, que mesmo tendo seu talento disperdiçado num vilão que tem pouco destaque, consegue se tornar a figura mais divertida do filme. Uma pena MESMO que, depois do Oscar de Ator Coadjuvante, ele tenha caído na mira de Hollywood. Não duvido que ele comece a aparecer em tudo quanto é filmezinho americano tosco caça-níquel depois disso. Não que ele seja ruim, MUITO pelo contrário.

A trilha sonora ajuda a engolir esse filme, também. Há músicas famosas e ótimas como Live With Me dos Rolling Stones e Blue Orchid dos White Stripes, que ajudam a experiência a ficar mais digesta.

Ah, verdade, esquecí de mencionar mais uma tendência: Esse filme está sendo exibido em 3D normal e IMAX 3D. Depois de Avatar, 3D têm virado tendência sim. Não vou dizer que é algo ruim, porque não sou hater. 3D oferece experiências inesquecíveis, como fez em Toy Story 3, Lenda dos Guardiões e Como Treinar Seu Dragão. Porém eu não ví Besouro Verde em 3D (nem tem cinema 3D aqui). Porém lí em alguns lugares que aqui foi mal-executado. Não sei se foi tão mal-executado quanto Fúria de Titãs (duvido. Pior 3D que aquele num rola), mas acho que ainda não vale o preço a mais do ingresso.

Na verdade, o filme em sí não vale o preço do ingresso de cinema. Conforme o tempo de projeção passa, o filme vai até ficando um pouco melhor. A última batalha até deu pra divertir um pouquinho, e tem um plano onde a edição e montagem me surpreendeu, no qual a notícia sobre o Besouro Verde vai se espalhando entre os mercenários da cidade, e a tela vai se dividindo a cada vez que uma pessoa espalha. É um plano legal de se acompanhar, mas nada disso salva o filme. Quando a coisa fica digerível, os créditos sobem, e aí?

Não duvido que haja uma continuação. Espero que não. Deixa isso quieto, por favor.

Nota: 3,5/10